Eles “estão livres, e as vítimas, que foram estupradas, têm que ficar escondidas” [1].

A frase é de Sandra Muñoz, coordenadora regional da Rede Feminina de Saúde, referindo-se ao caso do crime de estupro de duas adolescentes, que teria sido cometido por nove integrantes de um grupo musical, em agosto de 2012. O caso continua sem resolução, e, enquanto os acusados seguem fazendo shows, as vítimas passaram a ser protegidas pelo Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, tendo mudado de nome e estado, e sofrendo as consequências de um crime que as afeta significativamente, e de muitas maneiras. Perderam identidade, perderam relacionamentos, e agora vivem na luta constante contra as memórias e o medo.

Esse relato é muito triste, mas é mais comum do que se pode imaginar.

Muitas mulheres e crianças que são vítimas de escravidão sexual são introduzidas na indústria da prostituição, e acabam sendo filmadas – sem seu consentimento – durante o ato sexual, com o objetivo de produzir pornografia [2]. Outra ocasião, cada vez mais comum, é a publicação em sites pornográficos e o compartilhamento de imagens de adolescentes e crianças nuas, o que é popularmente conhecido como “nudes”, e é crime [3]. Não são poucos os relatos de vítimas que, devido ao trauma de terem sido violentadas ou à pressão psicológica da exposição, vêm a cometer suicídio [4].

Além disso, mesmo entre as mulheres que entram na indústria da pornografia por vontade própria, o impacto dessa experiência sobre sua vida é, muitas vezes, irreversível. As condições de trabalho incluem:

  • Sofrer violência física muito frequentemente [5], o que caracteriza uma forma de estupro;
  • Ter uma chance muito remota de constituir uma família [6];
  • Expor-se a contrair doenças sexualmente transmissíveis (apenas 17% dos atores e atrizes usam preservativos [7]);
  • Render-se ao uso de drogas (entre as mais comuns, a maconha, ecstasy e cocaína), porque “não conseguem lidar com a terrível forma como são tratadas”, conforme relata uma ex-atriz [8].

Assim como o crime de estupro, cada vídeo, revista ou imagem que registra uma mulher, adolescente ou criança nua, ou sendo abusada sexualmente, é também o registro de uma vida sendo destruída. As marcas são profundas, tanto físicas quanto psicológicas. E o infrator que sai impune não é somente o responsável pela produção de conteúdo pornográfico, mas são todos aqueles que acessam, ou que são coniventes com o acesso a esse conteúdo, que é disfarçadamente inofensivo, mas realmente devastador.

O que você pode fazer?

Pornografia é o registro de vidas sendo destruídas. Compartilhe este texto, auxiliando a conscientizar mais pessoas sobre os graves impactos que sofrem as pessoas que estão aprisionadas à essa indústria.


Referências:

  1. MENDES, H. Vítimas de estupro vivem clausura e banda ‘New Hit’ espera nova sentença. 2016. Disponível em: http://glo.bo/1Xa8Fio Acesso em 12 de junho de 2016.
  2. JOSH MCDOWELL MINISTRY. The porn phenomenon. 2016.
  3. TOLEDO, L.; DIÓGENES, J. Sites pornográficos lucram ao expor imagens roubadas de menores de idade. 2016. Disponível em:http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,sites-pornograficos-lucram-ao-expor-imagens-roubadas-de-menores-de-idade,10000056673 Acesso em: 12 de junho de 2016.
  4. IYER, K. Mobile porn? Teenage sexting and justice for women. 2013.
  5. BRIDGES, A.; WOSNITZER, R.; SUN, C. e LIBERMAN, R. Aggression and sexual behavior in best-selling pornography videos: A content analysis update. In: Violence Against Women 16. 2010.
  6. REISMAN, J.; SANITOVER, J.; LAYDEN, M.A.; WEAVER, J. Hearing on the brain science behind pornography addiction and the effects of addiction on families and communities. 2004. Disponível em: http://www.ccv.org/wp-content/uploads/2010/04/Judith_Reisman_Senate_Testimony-2004.11.18.pdfAcesso em: 12 de junho de 2016.
  7. LUBBEN, S. Ex-porn star tells the truth about the porn industry. 2008. Disponível em: http://www.covenanteyes.com/2008/10/28/ex-porn-star-tells-the-truth-about-the-porn-industry Acesso em: 12 de junho de 2016.
  8. Ibid.

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