Quando o site de notícias Catraca Livre publicou uma matéria sobre o vídeo em que um homem chamado Mallone Morais defende e até mesmo incentiva a produção e consumo de pornografia infantil, muitos leitores deixaram comentários nas redes sociais, revelando sua indignação e repulsa ao ouvir alguém argumentar a favor de algo que consideram muito errado.

Para contribuir nesse debate, analisamos o vídeo mencionado, selecionamos os principais argumentos de Mallone e destacamos alguns dos mais importantes fatores que devem ser observados em relação à temática da pornografia infantil, o que você confere a seguir:

Pornografia infantil e o tráfico de pessoas

Um dos argumentos iniciais de Mallone é que ao ver pornografia infantil uma pessoa não está fazendo mal a ninguém, afinal de contas ela não está se envolvendo sexualmente com as crianças, as quais estão em países distantes como Indonésia, Rússia ou Ucrânia.

O que chama a atenção é que justamente esses países por ele mencionados são locais marcados pelo tráfico e exploração sexual de crianças. Todas as províncias da Indonésia são destinos do tráfico de pessoas – especialmente meninas, que, geralmente, são forçadas a entrar na indústria do comércio sexual e da pornografia [1]. A Rússia é um dos principais produtores de pornografia infantil no mundo, e o processo de produção muitas vezes consiste na exploração sexual de crianças, as quais são filmadas sem seu consentimento [2]. E na Ucrânia, que é um dos principais países de origem do tráfico de pessoas, 96% das vítimas são mulheres, sendo que entre as atividades forçadas mais comuns para meninas com menos de 12 anos está a produção de pornografia [3].

Pornografia infantil e a destruição da infância

Outra justificativa de Mallone é que as meninas que aparecem em imagens e vídeos de pornografia infantil são muito sensuais, e que não parecem estar sofrendo – pelo contrário, gostam muito e sentem prazer com o que fazem.

Ok. Então vamos dizer que o consumidor dê a “sorte” de acessar um vídeo que foi feito com uma criança que realmente desejava realizá-lo, e não com crianças vítimas de tráfico e exploração sexual – o que corresponde a 1/5 de toda a pornografia online. Nesse caso – que, só para deixar bem claro, é raro – existem implicações físicas e psicológicas profundas que dão razão e que podem ser originadas a partir desse comportamento. Os relacionamentos que uma pessoa tem na infância (especialmente com pais ou cuidadores) são considerados a base para todos os relacionamentos futuros, nas interações interpessoais significativas [4]. Além disso, uma criança que demonstra erotização tão alta está em descompasso com o que é próprio ao seu desenvolvimento, e necessita de cuidados especiais, e não de adultos aproveitadores.

Pornografia infantil e o comportamento vicioso

“Quando você começa a ver, não quer mais parar. Mas isso não é como cigarro ou bebidas; pornografia infantil não faz mal para sua saúde, ela é pura e exclusivamente prazerosa”.

Nesse ponto, Mallone está parcialmente certo, mas gravemente errado. Realmente, quem vê pornografia com frequência tem cada vez mais dificuldade em parar [5], e o vício desenvolvido não é semelhante a outras adições. Mas é justamente que aí se encontra um grande perigo: o comportamento vicioso de quem vê pornografia não está associado à repetição das sensações de prazer, mas a buscar formas diferentes, e mais intensas de prazer [6]. Com isso, o consumidor inicia sua trajetória com imagens sensuais, passa a vídeos pornográficos, até chegar à pornografia com violência extrema e à pornografia infantil… Longe de ser algo exclusivamente prazeroso, esse é um caminho de destruição: a necessidade de novidade e intensidade pode conduzi-lo a levar os impulsos à prática, frequentemente resultando em casos de estupro e violência na vida real [7].

Pornografia infantil é crime

Não importa o que qualquer pessoa argumente: em nosso país a Lei está de acordo com as evidências que mostram os graves prejuízos – tanto para as crianças, quanto para o consumidor – da pornografia infantil.

Por isso, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente é crime produzir, vender, disponibilizar, publicar, adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente.

O que você pode fazer?

Recuse-se a clicar em conteúdo pornográfico de qualquer natureza, especialmente se envolver crianças. Para denunciar crimes de pornografia infantil, utilize o Disque 100, ou o site da Polícia Federal. Compartilhe este texto, levando conscientização sobre a temática da pornografia infantil para mais pessoas.

  • Link para o vídeo em que Mallone Morais defende a legalização de pornografia infantil (AVISO: O vídeo contém vocabulário vulgar, de natureza sexual e pornográfica)

Referências:

  1. UNICEF. Indonesia sexual exploitation fact sheet. 2010. Disponível em:http://www.unicef.org/indonesia/UNICEF_Indonesia_Sexual_Exploitation_Fact_Sheet_-_July_2010.pdf
  2. CHELALA, C. Stopping Sexual Abuse of Children in Russia. Disponível em:http://www.counterpunch.org/2013/02/18/stopping-sexual-abuse-of-children-in-russia/
  3. CORTEMIGLIA, V. Trafficking in minors for comercial sexual exploitation Ukraine. 2006. Disponível em:http://www.unicri.it/topics/trafficking_exploitation/archive/minors/countries_partners/dr_ukraine.pdf
  4. DALBEM, J.; DELL’AGLIO, D.. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Disponível em:http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/view/40/57
  5. FTND. How porn can become addictive. 2014. Disponível em:http://fightthenewdrug.org/how-porn-can-become-addictive/
  6. FTND. Why watching porn is an escalating behavior. 2014. Disponível em:http://fightthenewdrug.org/why-watching-porn-is-an-escalating-behavior/
  7. DOBSON, J. Ted Bundy’s final interview. 1989. Disponível em:http://www.pureintimacy.org/f/fatal-addiction-ted-bundys-final-interview/

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