Eu mal posso me lembrar de como era minha vida antes da pornografia. Claro, de algumas coisas eu me lembro; uma grande festa de ano novo na casa dos meus pais, andar de bicicleta em volta do parque atrás da minha casa, construir castelos com a neve que se acumulava nos montes, e a primeira vez fiquei acordado até depois da meia noite. Mas esses são pequenos flashes de memórias. Eu honestamente não me lembro de muitas outras coisas específicas antes do que aconteceu no parquinho quando eu tinha 8 anos.

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Do insulto à procura na internet

Eu tinha um amigo mais velho, vocês sabem, aquele que todos nós tivemos quando estávamos crescendo, aquele que sabia mais que você sobre tudo, e que era um péssimo exemplo. Ele sabia todas as coisas que nós fingíamos saber para não sermos chamados de bebezinhos. Essa criança em particular gostava de usar palavras que nós sabíamos que eram feias. Vários dos insultos que ele usava incluíam uma linguagem “muito colorida”, entre eles as palavras “gay” ou “fag” (algo como bichinha).

Eu me lembro de que realmente eu não entendia essas palavras. Mas eu sabia muito bem que, para manter minha credibilidade na rua, eu não poderia falar para ninguém que eu não sabia o que aqueles insultos queriam dizer. E, para o meu azar, eu sabia onde encontrar as respostas para minhas perguntas: Yahoo Search. (o Google ainda não era tão popular na época).

Eu não me lembro exatamente da primeira imagem que vi, quando escrevi “gay” na barra de pesquisa. Provavelmente porque substituí ela em meu cérebro por tantas outras imagens e vídeos – mais do que uma pessoa possa calcular. Porém, me lembro como me senti quando a vi. Eu fiquei assustado e excitado. Senti medo e prazer, tudo ao mesmo tempo. Eu não compreendia direito o que estava vendo, mas daquele momento em diante eu não consegui mais voltar. Eu repetidamente procurava imagens de pornografia gay, olhava em todo o lugar, quando fosse possível e quantas vezes eu pudesse. Antes de chegar aos 12 anos de idade, eu me viciei em pornô gay.

O que a pornografia ensina

Meu vício em pornografia rapidamente me ensinou várias lições distorcidas sobre a vida. Aprendi a mentir, transformando a verdade naquilo que era melhor para mim. Aprendi a manipular; eu repetidamente sabotava o filtro de internet no computador da família e a internet caía se ele era ativado. Eu vinha para casa todos os dias e perguntava para a minha mãe se ela podia desativar o bloqueador para eu “fazer o meu dever de casa”.

E acima de tudo, eu aprendi coisas sobre sexo, ou ao menos o que o pornô me falava que era sexo. Que educação. Eu revirava a internet a procura de tudo de novo e erótico sobre homens, sexo e homossexualismo. Eu até mesmo me lembro de procurar por imagens de garotos que tinham a minha idade. Eu entendia que o que eu fazia era algo errado, mas eu não conseguia me desligar daquilo. Minha única motivação de viver era achar pornôs maiores, melhores e mais excitantes.

Eu estava perdido. Eu estava perdido em mim mesmo, se é que isso faz algum sentido.

Você já foi questionado sobre “o que você mais gosta de fazer”, e não sabia como responder? É assim que eu sempre me sentia. Eu odiava questões como essa quando estava crescendo. Eu odiava que me dissessem para eu ser eu mesmo, porque eu não tinha ideia do que significava “ser eu mesmo”.

Eu me desgastava tanto procurando abrir mais espaço em mim mesmo para acomodar meu vício, que me sentia como uma casca vazia. E as consequências mais trágicas dessa batalha interna foram as que impactaram minha habilidade de amar.

Amando para amar

Quando eu era uma criança eu amava amar. Eu enviava cartinhas de amor para as amiguinhas de minha irmã e pedia em casamento as nossas babás. Eu conheci pessoas lindas e minha mente inocente queria abrir meu coração para elas. Mas quando deixei o pornô entrar em minha vida, essa parte amável em mim foi envenenada e começou a desaparecer. Aprendi a ver meninos e homens na minha vida como objetos, como coisas a serem vistas, e não como pessoas com quem se importar. Eu nunca tentei conhecer melhor ninguém, por que as pessoas não se comparavam ao pornô.

A parte ruim disso é que ninguém me deu uma solução. Eu sempre ouvia uma destas duas coisas: A) O que você faz é errado e mesmo que você se sinta naturalmente atraído por homens, você não deve ter um relacionamento. B) O que você sente é natural, e você precisa explorar sua sexualidade. Porém, nenhuma dessas opções me ajudava.

Simultaneamente, o pornô que eu assistia começou a se tornar mais extremo, mas eu me justificava, pensando que essa seria uma expressão de quem eu realmente sou. As únicas coisas que eu sempre ouvia (e via) sobre o que significa ser gay tinham a ver com sexo. Essa percepção foi reforçada pelo pornô porque os únicos relacionamentos gays que tive foram os poucos minutos que ficava em frente ao meu computador. Basicamente, a minha chance de aprender sobre sexualidade em uma vida amorosa e saudável foi roubada de mim pelo meu vício em pornografia.

Todos procuram por liberdade

Às vezes eu olho em volta e penso, se eu sou o único que se sente assim. Todos parecem procurar a liberdade. Nós deveríamos poder amar quem e como quisermos, certo? Bem, eu nunca tive essa chance. Eu tinha um site pornô favorito antes de ter uma banda favorita. Eu tive um fetiche antes de ter uma paixão. Deixei o pornô entrar na minha cabeça e desliguei meu coração.

Penso que nós precisamos parar por um segundo e perguntar a nós mesmos, sobre o que é realmente importante. Nós queremos tanto viver a vida da forma como bem desejarmos que acabamos nos perdendo. Nenhuma abertura ou compreensão poderia se comparar à maneira como o pornô me fazia pensar ou sentir. Mas, se nós queremos ter uma mente aberta, nós precisamos estar certos de que temos uma mente saudável para começar.

Acredito que a sexualidade deve ser entrelaçada com o amor, mas a pornografia está mudando isso. Todos, incluindo minha geração, deveriam ter a chance de crescer, aprender sobre si mesmo e ser livres. O pornô nunca vai deixá-los fazer isso.

Eu daria tudo para voltar atrás e proteger minha mente para que ela não fosse sequestrada. Eu queria que, quando eu estivesse aprendendo sobre mim mesmo e minha sexualidade, eu tivesse lições de amor e respeito, e não luxuria e egoísmo. Todos deveriam lutar pela liberdade de amar de verdade. Eu não quero uma falsificação barata.  Eu não quero ver as pessoas como brinquedos com que eu possa brincar. Eu quero que meu amor seja profundo, íntimo, excitante e divertido e o mais importante, real.

Eu rejeito tudo que o pornô fez comigo. E continuarei a lutar por amor.

*Texto traduzido e adaptado de “What years of gay porn never taught me about healthy sexuality”.  Disponível em: https://fightthenewdrug.org/what-porn-taught-me-about-being-gay/

Tradução: Felipe Gonsioroski | Revisão: Miguel Dolny

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